Benefícios aos passageiros justificam requalificação dos cobradores

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A Convenção Coletiva de Trabalho 2018/2019, assinada em conjunto pelo Setransp e Sindimoc, prevê a modernização do sistema de bilhetagem do transporte coletivo de Curitiba. Essa nova realidade implicará, como ocorre em todo avanço tecnológico, em alteração na estrutura organizacional das empresas de ônibus, com a criação de novos postos de trabalho e a diminuição gradual de outros – no caso, dos cobradores, cujos serviços, pagos por todos os passageiros, não são necessários para a maioria (63% já usam o cartão transporte). A mudança só se justifica, porém, se trouxer benefícios também aos passageiros, e é exatamente isso o que vai acontecer.

Antes de apontar os ganhos para os usuários, é importante colocar com clareza e transparência as informações sobre o que se está discutindo, pois, em momentos como esse, o que não falta é oportunismo e manipulação dos dados pela categoria afetada.

Em primeiro lugar, não serão demitidos 6 mil cobradores, até porque Curitiba só conta com 3,4 mil. Destes, serão atingidos somente os cobradores embarcados, ou seja, aqueles que trabalham no interior dos ônibus: cerca de 2 mil profissionais. E eles não serão demitidos, mas sim requalificados para outras funções, com chance de ganhar mais e melhorar de vida.

Depois, não há nenhuma hipótese de demissão em massa, ainda mais antes do Natal. A Convenção Coletiva de Trabalho estabelece três condições para a modernização da bilhetagem: 1. matrícula e custeio dos cobradores em um dos cursos de formação profissional do Senat, à escolha do empregado; 2. aproveitamento, sempre que possível, da mão de obra dos cobradores em outras atividades existentes nas empresas empregadoras; 3. garantia no emprego pelo prazo de 12 meses. Portanto, qualquer desligamento sem justa causa só poderá ser feito a partir de maio de 2019.

Outro ponto de destaque é que eventual economia com a nova bilhetagem não se transformará em lucro para os empresários, ao contrário do que supõem alguns desinformados ou mal-intencionados. A gestão dos recursos fica e ficará com o Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC) e servirá, em linha com outras medidas adotadas em conjunto com a Urbs, para diminuir os custos do sistema e dar condições à redução da tarifa aos passageiros. O transporte coletivo como negócio sobrevive ao promover acesso universal por meio da modicidade tarifária. Não se sustenta com passagem elevada aos usuários, ainda mais em um cenário de alto desemprego e de forte – e até desleal – concorrência com aplicativos de transporte. Por isso, é primordial que Setransp e Urbs trabalhem visando ao menor custo. Além disso, cabe lembrar que os sistemas mais eficientes e modernos do mundo não têm na tarifa sua única fonte de custeio. A maioria conta com subsídios para operar.

Exposto o que se discute, é hora de falar sobre os benefícios da modernização da bilhetagem e do pagamento da tarifa apenas com o cartão transporte. O primeiro e mais importante é o aumento da segurança no interior dos ônibus. Quanto menos dinheiro em circulação, menor é a atratividade para roubos. Campo Grande (MS) praticamente zerou os assaltos dentro dos ônibus com o pagamento exclusivo com cartão. Em São Paulo (SP), os roubos a ônibus caíram 94% após a implantação do Bilhete Único.

Além disso, o sistema ganha confiabilidade. As bilhetagens mais modernas já dispõem de biometria facial. Isso impede, por exemplo, que pessoas que não têm direito à gratuidade usem o cartão de quem de fato tem direito. O combate eficiente às fraudes tende a melhorar a receita do sistema e, com isso, abrir a possibilidade para a redução da tarifa ao passageiro.

Por fim, o pagamento com cartão transporte torna mais rápido o embarque, pois basta aproximar o cartão do validador e passar a catraca. Com dinheiro, o embarque demora por causa do troco.

Se Curitiba quer voltar a ser referência em transporte coletivo, precisa modernizar seu sistema. A frota está sendo renovada. Está na hora de renovar também a prestação do serviço.

Mauricio Gulin
Presidente do Setransp

* Artigo publicado no site do jornal Gazeta do Povo, em 30 de novembro de 2018

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